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SAÚDE

Preconceito atrasa o avanço do uso de Cannabis

Apenas 2% dos médicos brasileiros fazem prescrição do medicamento

Vários estudos nacionais e internacionais mostram que os derivados de Cannabis têm potencial para tratar inúmeras doenças como epilepsia, espectro autista, diabetes, além de transtornos psiquiátricos. Ainda assim, apenas 2% dos médicos brasileiros fazem essa prescrição. “A questão central é o preconceito social, para médicos e até para a população, tudo é maconha e essa ideia traz décadas de proibicionismo e histórias sobre o uso da maconha. Isso traz sofrimento para pacientes que poderiam ser beneficiados com a Cannabis, uma dor que agrava o quadro clínico que ela já tem”, diz Leticia Laranjeira, psicóloga especializada no uso medicinal e terapêutico da Cannabis.

Para ajudar a combater o preconceito e auxiliar pacientes que precisam ou já fazem uso da Cannabis, em 2020, Letícia criou uma rede de profissionais com foco principal na educação da sociedade. “Quando negamos os benefícios terapêuticos da Cannabis ou quando somos preconceituosos e proibitivos, produzimos um sofrimento mental. Precisamos repensar nossa relação com essa planta que faz parte da nossa história já que foi uma das primeiras plantas cultivadas pelo homem desde que deixamos de ser caçadores”, diz Letícia.

Segundo Letícia, ao contrário do imaginário popular, a Cannabis é uma medicação que requer acompanhamento cotidiano, exatamente, como acontece com a medicação em outras doenças crônicas como diabetes, hipertensão, câncer, isso só para citar algumas.  “Temos buscado promover espaços de acolhimento acerca do uso da Cannabis, ajudando na desconstrução do preconceito e na promoção da qualidade de vida e bem estar. Fazemos escuta ativa e temos usado a internet para chegar a milhares de pessoas, inclusive nas regiões mais remotas”.

Pacientes que fazem uso dessa medicação são orientados a buscar outros profissionais para o acompanhamento, o que chamado de Terapia Transdisciplinar, ou seja, além do médico que prescreve, o ideal é ter um psicólogo para fazer o acompanhamento e ajudar o paciente a fazer a autogestão da sua vida. “Isso ajuda a enfrentar o preconceito fazendo com que ele não desista do tratamento”, explica Letícia.

Além do uso, Letícia ainda defende a liberdade para que usuários dessa terapia possam fazer o cultivo da planta. “É importante que tenhamos liberdade para decidir qual variedade será cultivada, existem milhares de cruzas e cada espécie tem um conjunto de componentes”. Estudiosos apontam que o extrato integral da Cannabis demonstra maior eficiência se comparado o que o mercado tem liberado com uso isolado. “Se não defendermos a produção artesanal, vamos direcionar o acesso apenas às grandes indústrias e reduzir o poder da planta como um todo. Eles pegam todas as moléculas lindas e extraem apenas um componente”, analisa.

Desde a criação, em 2020, o coletivo tem reunido documentação, promovido debates e lutado contra prisões de pacientes. “Essa é uma luta coletiva”, finaliza Letícia.

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